livro<\/a> infantil chamado Lana Capulana. Depois de n\u00e3o comer, beber nem fazer xixi e s\u00f3 tremer por 3 dias, a bichinha finalmente foi baixando a guarda e se acostumando com sua nova casa e com o amor que recebia. Virou uma filha pra n\u00f3s. N\u00e3o consegu\u00edamos lev\u00e1-la de avi\u00e3o pra Floripa como desejado, j\u00e1 que pelas pernas compridas ela precisava de uma caixa enorme que s\u00f3 poderia viajar no bagageiro do avi\u00e3o. Ela j\u00e1 era uma cachorra assustada, ent\u00e3o entendemos que poderia ser traum\u00e1tico demais para ela.\u00a0<\/p>\n\n\n\nRapidinho criamos uma rotina com ela. Passeios na rua, na praia, no parque, carinhos mil, colinhos e afagos no sof\u00e1. Ela sempre curtiu brincar com cachorros pequenos, mas pros grandes ela rosnava. Descobrimos que antes de vir pra n\u00f3s, ela morava em um terreno abandonado com cachorros grandes. Vai saber o que eles faziam com ela\u2026<\/p>\n\n\n\n
Mudamos o nome dela pra Lana por conta dos tecidos coloridos que trouxemos de Mo\u00e7ambique que se chamavam capulanas. Ent\u00e3o ficou Lana Capulana! Em outubro daquele ano meu filho Augusto nasceu. Acho que ela n\u00e3o curtiu muito no in\u00edcio, mas foi se acostumando com a presen\u00e7a e as brincadeiras dele. Se tornaram bons amigos. <\/p>\n\n\n\n
De Maca\u00e9, mudamos para o Rio de Janeiro e em 2018, pra Floripa. Ela enfim veio na caixa grande no bagageiro do avi\u00e3o. De garota de Ipanema passou \u00e0 rainha da floresta da Praia Brava. Amava desparecer no mato aqui do lado de casa e voltava na hora que queria. Acho que curtiu o sil\u00eancio do bairro e o barulhinho do mar. Aqui fizemos trilhas, muitos passeios no parque, na pracinha, al\u00e9m de infinitos carinhos e cafun\u00e9s. <\/p>\n\n\n\n
Ela sempre foi uma fofa. Silenciosa, latia quase nunca. Se algum amigo ou familiar ficasse uns dias com ela quando a gente viajava, era dif\u00edcil devolver rs! J\u00e1 a chamaram de cachorra buda! E acho que era mesmo! Ela nos ensinou tanto\u2026 Demonstrava tanto amor e gratid\u00e3o por a termos acolhido que era lindo de ver. Dava pra ver que tinha seus traumas. Quando uma porta batia ou quando ouv\u00edamos fogos de artif\u00edcio ou trov\u00f5es l\u00e1 fora, ela tremia por muito tempo\u2026 <\/p>\n\n\n\n
Ent\u00e3o, em mar\u00e7o desse ano, ela come\u00e7ou com uma cistite dif\u00edcil de curar. Fomos investigando e a conclus\u00e3o foi que ela tinha a doen\u00e7a do carrapato. Talvez em um de seus passeios, o danado tenha picado ela. Na hora n\u00e3o costuma acontecer nada, mas um ano depois o quadro vira o de uma doen\u00e7a autoimune e o sistema imunol\u00f3gico vai falhando.<\/p>\n\n\n\n
Peregrinamos em laborat\u00f3rios, cl\u00ednicas e veterin\u00e1rios. Nunca tinham visto um exame de sangue t\u00e3o ruim\u2026 Demos todos os rem\u00e9dios poss\u00edveis, fizemos transfus\u00e3o de sangue, oz\u00f4nioterapia e tudo o que estivesse ao nosso alcance. Mas fomos compreendendo que a hora dela estava chegando.<\/p>\n\n\n\n
Fui para o mundo espiritual buscar respostas. Constelei a doen\u00e7a dela e ali vi o que ela queria me dizer. Lana Capulana trazendo li\u00e7\u00f5es pra gente at\u00e9 o \u00faltimo dia\u2026 Tomei decis\u00f5es importantes e fomos nos preparando pra sua partida. Nesse meio tempo, tinha uma viagem pro Peru h\u00e1 muito marcada. Fomos e a deixamos aos cuidados da minha irm\u00e3, que foi um anjo pra n\u00f3s. Ofereceu todo o carinho e conforto que a Lana precisava pra nos esperar. Foi dif\u00edcil estar longe, mas eu sabia que precisava ir. E ela esperou.<\/p>\n\n\n\n
Tr\u00eas dias depois que voltamos, j\u00e1 h\u00e1 algum tempo sem comer, com dificuldades pra andar e se manter de p\u00e9, os olhinhos dela j\u00e1 n\u00e3o brilhavam mais. Em casa, ela conseguiu balan\u00e7ar o rabo duas vezes s\u00f3\u2026 N\u00e3o tinha mais energia de viver. Conversamos muito com ela, agradecemos por todo o amor e aprendizados e dissemos que ela podia partir em paz. E assim foi. Do jeitinho discreto e tranquilo que era t\u00edpico, ela partiu recebendo nossos carinhos em seu corpo f\u00edsico.<\/p>\n\n\n\n
Eu nunca tinha vivido uma passagem t\u00e3o de perto, ao alcance das minhas m\u00e3os. Foi uma experi\u00eancia muito importante. Compreender que a vida \u00e9 literalmente um sopro, que no segundo seguinte pode n\u00e3o mais estar ali, uau, que li\u00e7\u00e3o! Ent\u00e3o eu, meu companheiro e nosso filho, hoje com 6 anos, a enterramos na floresta ao lado de casa que ela tanto adorava. Jamais vou esquecer da cena que foi meu marido subindo as escadas para a mata com ela nos bra\u00e7os, pela \u00faltima vez, enroladinha em seu cobertor vermelho\u2026 Preparei a melhor cerim\u00f4nia que meu estado emocional permitiu, ancoramos a passagem dela nos quatro elementos, agradecemos muito, colocamos um livro Lana Capulana junto e cobrimos seu corpo sem vida com terra. \u00c9 pra l\u00e1 que todos voltaremos, n\u00e3o tem jeito, n\u00e9?<\/p>\n\n\n\n
Plantamos uma \u00e1rvore e tenho certeza que Lana vai virar um lindo adubo pra que ela cres\u00e7a forte e traga muitas belezas para n\u00f3s.<\/p>\n\n\n\n
\u00c9 claro que eu sabia que ela ia morrer, mas n\u00e3o sei se imaginava como seria quando isso acontecesse. Tem sido bem mais dif\u00edcil do que eu pensava. O primeiro dia sem ela foi inacredit\u00e1vel. As imagens da morte e do enterro n\u00e3o sa\u00edam da minha cabe\u00e7a e meu peito do\u00eda demais. Eu sentia como se tivesse deixado ela sozinha l\u00e1 fora, de noite, debaixo da terra\u2026 Era uma sensa\u00e7\u00e3o terr\u00edvel! O segundo dia foi um pouco menos dif\u00edcil. Mas lavar seus \u00faltimos paninhos, guardar seu prato e sua coleira, doar sua ra\u00e7\u00e3o – tudo isso foi punk. Sair de casa sem fechar as portas dos quartos – ela costumava subir nas camas – ainda \u00e9 estranho\u2026 Estender meu tapete de yoga no sol e n\u00e3o ter ningu\u00e9m ocupando um ter\u00e7o dele d\u00e1 um n\u00f3 na garganta\u2026. N\u00e3o ter que descer com ela pra fazer xixi nem sair pra passear no final de semana faz a gente ter um tempo livre a mais que nem sabemos como ocupar ainda\u2026<\/p>\n\n\n\n
Todas as primeiras vezes sem ela t\u00eam sido dif\u00edceis. Mas as segundas e terceiras t\u00eam sido um pouco menos\u2026 Eu sei que a dor vai passar e vai ceder lugar para a saudade e as boas lembran\u00e7as. Mas eu preciso viver o que o momento pede. E ainda estou muito triste. <\/p>\n\n\n
Mas sei que vivemos plenamente os momentos que tivemos com ela, at\u00e9 o fim. Tamb\u00e9m sei que todo fim traz um novo come\u00e7o. E que tudo acontece na hora e do jeito que tem que acontecer.\u00a0<\/span><\/p>\n\n\nQuanto ao Augusto, ela tem lidado super bem com a perda at\u00e9 agora. H\u00e1 semanas v\u00ednhamos preparando-o para a partida dela, ele falava sobre isso com naturalidade, onde vamos enterr\u00e1-la, como vai ser, etc., etc. E ter visto o corpo dela, ter enterrado, tudo isso marcou bem o momento. Vez ou outra ele fala dela, que ela era a melhor cachorra do mundo, que tem saudade, etc., e vamos nos acolhendo mutuamente. E a vida vai seguindo.<\/p>\n\n\n\n
Obrigada, Lana Capulana, por ter sido esse serzinho t\u00e3o iluminado! Obrigada por todo o amor e todas as li\u00e7\u00f5es! Que voc\u00ea possa descansar em paz agora!<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
Os dias t\u00eam sido estranhos. O sil\u00eancio, a aus\u00eancia, a n\u00e3o necessidade de fazer certas coisas. T\u00e1 um vazio. E ele t\u00e1 gigante. \u00c9 que faz pouco mais de uma semana que Lana Capulana partiu desse mundo. E pra entender o tamanho da aus\u00eancia \u00e9 preciso compreender o magnitude da presen\u00e7a. Explico. Lana chegou na […]<\/p>\n","protected":false},"author":2,"featured_media":14411,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":[],"categories":[204],"tags":[367,366,365],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/falafrida.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/14410"}],"collection":[{"href":"https:\/\/falafrida.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/falafrida.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/falafrida.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/falafrida.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=14410"}],"version-history":[{"count":5,"href":"https:\/\/falafrida.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/14410\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":14486,"href":"https:\/\/falafrida.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/14410\/revisions\/14486"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/falafrida.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media\/14411"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/falafrida.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=14410"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/falafrida.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=14410"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/falafrida.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=14410"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}