Depois de ler e ouvir muitos depoimentos de outras m\u00e3es que tanto me ajudaram, resolvi escrever este relato para contar nossa caminhada de amamenta\u00e7\u00e3o, que eu considero uma hist\u00f3ria linda e de sucesso, apesar do come\u00e7o dif\u00edcil e do fim t\u00e3o inesperado e n\u00e3o planejado aos 1 ano e 3 meses da Alice.<\/p>\n\n\n\n

O come\u00e7o foi dif\u00edcil, mas tamb\u00e9m n\u00e3o foi dos piores que j\u00e1 vi. Ela nasceu de parto normal e veio direto para o meu peito. N\u00e3o quis mamar muito na hora, mas logo pegou bem, apesar de n\u00e3o ter tido uma assist\u00eancia humanizada e ela ter sido separada de mim no p\u00f3s-parto no hospital. Sofri com rachaduras, que chegaram a sangrar na primeira semana por conta de pega errada (o fato de meu bico ser plano tamb\u00e9m contribuiu). V\u00e1rias vezes cheguei a amament\u00e1-la chorando de dor. Tamb\u00e9m tive ingurgitamento mam\u00e1rio na descida do leite e come\u00e7o de mastite. Frio, sensa\u00e7\u00e3o de febre, peito cheio, empedrado e enorme, muita dor, n\u00e3o conseguia nem levantar o bra\u00e7o. A noite em claro mais longa e dolorida do meu p\u00f3s-parto.<\/p>\n\n\n\n

Ela nasceu pequena (2,730 kg), mesmo sendo a termo (39 semanas), e tinha muita for\u00e7a, mas dormia no peito poucos minutos ap\u00f3s come\u00e7ar a mamar, o que a fazia n\u00e3o mamar o leite posterior, dificultando o ganho de peso. Ent\u00e3o fui assombrada pelo medo do leite ser insuficiente, logo no come\u00e7o. Sa\u00ed chorando da consulta de um m\u00eas do pediatra, pois ela n\u00e3o tinha engordado praticamente nada (e com uma receita que indicava muita \u00e1gua e \u201ckuka fresca\u201d para mim, consulta ao banco de leite e f\u00f3rmula para complementar, se julgasse necess\u00e1rio). Assim, fui ao banco de leite e contratei consultora de amamenta\u00e7\u00e3o para ajudar a corrigir a pega (que descobrimos que era o problema, tanto para o baixo ganho de peso quanto para meu bico bastante machucado). Complementei com f\u00f3rmula durante 15 dias, apenas uma vez ao dia (na \u00faltima mamada antes de dormir). Optamos por dar o leite no copinho (parecido com o de \u201cpinga\u201d), para evitar confus\u00e3o de bicos. Eu n\u00e3o conseguia dar, derramava tudo para fora, e acabava com n\u00f3s duas chorando e nervosas. Meu marido ficou com esta tarefa, e fez isso muito bem. Confesso que me senti frustrada, incapaz, triste, parecia \u201cveneno\u201d aquele leite da latinha (sentimento surreal, mas era o que senti da primeira vez).<\/p>\n\n\n

Depois me conformei e pensei que se ela precisasse de complemento para se sustentar, que assim fosse, eu continuaria insistindo na amamenta\u00e7\u00e3o quanto fosse poss\u00edvel.<\/span><\/p>\n\n\n

Sinceramente, depois vi que quem precisava daquele complemento era eu, e n\u00e3o ela (afinal, ela mamou menos de 30 ml por dia de leite artificial durante pouco tempo). Assim que corrigimos a pega e me senti mais segura, a amamenta\u00e7\u00e3o fluiu, e no segundo m\u00eas, somente com leite do peito ela ganhou mais de 1kg! Que alegria sem fim. Depois disso, n\u00e3o dei mais complemento, segui em amamenta\u00e7\u00e3o exclusiva.<\/p>\n\n\n\n

Outro problema foi que, at\u00e9 os 40 dias, n\u00e3o conseguia amament\u00e1-la sozinha (parece bem absurdo, mas \u00e9 verdade…). Primeiro precisava \u201cpreparar o peito\u201d, colocando luz e tirando um pouco de leite para aliviar o bico, depois precisava que algu\u00e9m me ajudasse a segur\u00e1-la para colocar para mamar (algu\u00e9m precisava segurar as m\u00e3ozinhas dela para que eu, com uma m\u00e3o segurasse a cabe\u00e7a e com a outra o peito para arrumar a pega). Ent\u00e3o rolou um rod\u00edzio de pessoas da fam\u00edlia em casa para me ajudar no come\u00e7o… Al\u00e9m disso, s\u00f3 conseguia amament\u00e1-la na posi\u00e7\u00e3o invertida (por um bom tempo), pois assim eu tinha mais controle da pega (afinal, cada vez que ela pegava errado, machucava novamente meu bico).<\/p>\n\n\n\n

Mas vencemos tudo isso e depois de alguns meses (sim, foi melhorando, mas somente depois do quarto m\u00eas n\u00e3o sentia mais dor ao amamentar) descobri como era gostoso, al\u00e9m de ser muito mais f\u00e1cil e pr\u00e1tico. Chegamos aos t\u00e3o sonhados seis meses de aleitamento materno exclusivo e em livre demanda, sem ch\u00e1, suco, fruta, \u00e1gua, nada. Sem bicos artificiais tamb\u00e9m (chupeta, mamadeira etc.). E depois da introdu\u00e7\u00e3o alimentar aos 6 meses, continuamos com o leite materno. Voltei ao trabalho aos 4 meses e meio, mas com carga de trabalho flex\u00edvel (dava aulas na faculdade e escrevia minha tese de doutorado na \u00e9poca). Ela ficava com minha m\u00e3e e meu marido nos per\u00edodos em que ficava fora. Quando ela completou um ano, foi para escolinha e pude voltar de forma integral ao trabalho. Ela n\u00e3o deu trabalho algum na escola, se adaptou muito bem, mamava antes e depois de chegar da mesma.<\/p>\n\n\n\n

Passamos por picos de crescimento e a ansiedade da separa\u00e7\u00e3o (sete meses foi o pior), nos quais ela mamava muito mais, acordando v\u00e1rias vezes \u00e0 noite, intercalados por per\u00edodos de bastante tranquilidade. De percal\u00e7os, houve ainda duas vezes em que tive que ir ao banco de leite por entupimento nos ductos, mas nada grave. Ela dormiu no meu quarto (bercinho) at\u00e9 os 9 meses mais ou menos, depois passou a dormir no ber\u00e7o no pr\u00f3prio quarto. O desmame noturno ocorreu naturalmente, por volta de 1 ano de idade, e partiu dela, que parou de acordar de noite para mamar. At\u00e9 que, com pouco mais de 1 ano e 2 meses, ocorreu o inesperado desmame. O que come\u00e7ou com uma greve de amamenta\u00e7\u00e3o por conta de um resfriado, se estendeu e acabou culminando no mesmo.<\/p>\n\n\n\n

Num s\u00e1bado de manh\u00e3, ela pediu para mamar e teve dificuldade, n\u00e3o mamou direito, pois o nariz estava entupido. E, naquela hora, nunca imaginei que aquela seria a \u00faltima vez que mamaria. Depois disso, n\u00e3o queria comer, recusava o peito, chorava e recusava at\u00e9 o meu colo. Naquele final de semana passamos n\u00f3s duas chorando, ela de um lado e eu do outro. S\u00f3 o pai conseguia acalm\u00e1-la e faz\u00ea-la dormir. Sentimento de impot\u00eancia, frustra\u00e7\u00e3o e rejei\u00e7\u00e3o. Me senti realmente p\u00e9ssima. Vale destacar que naquela semana do ocorrido, eu estava muito nervosa e estressada, pois enfrentava dificuldades em escrever minha tese de doutorado e o prazo para qualificar estava se esgotando.<\/p>\n\n\n\n

Sofri com ingurgitamento novamente, in\u00edcio de mastite e entupimento de ductos pela parada abrupta de mamadas (volta eu para o banco de leite v\u00e1rias vezes, e senti de novo muita dor…). Pelo menos consegui doar um pouco do leite que estava sobrando para bebezinhos que precisavam. Contratei consultora de amamenta\u00e7\u00e3o e tentei de tudo que estava ao meu alcance: amamentar dormindo, em posi\u00e7\u00f5es diferentes, em lugares diferentes, conversar, ver outro beb\u00ea mamando, manuten\u00e7\u00e3o da oferta e ordenha por 15 dias desde o \u00faltimo dia em que ela mamou.<\/p>\n\n\n\n

Fiquei uma semana negando, acreditando que era simplesmente uma greve de amamenta\u00e7\u00e3o e que ela voltaria a mamar, mesmo porque ela continuava pedindo o \u201cTet\u00ea\u201d e ficava bastante irritada nas horas de mamar, principalmente a noite (nem meu colo aceitava, s\u00f3 o pai conseguia faz\u00ea-la dormir neste per\u00edodo). Depois disso, sarou, voltou a comer, aceitou tomar o leite no copinho (ainda era o meu leite que eu tirava e dava a ela), foi ficando mais calma e me \u201caceitou\u201d de volta (na verdade, grudou em mim), mas mesmo assim n\u00e3o quis mamar mais nenhuma vez. Foi a\u00ed que a \u201cficha caiu\u201d e passei mais uma semana bem triste, meio inconformada (afinal, tinham me vendido a ideia de que n\u00e3o havia desmame partindo do beb\u00ea antes dos dois anos). At\u00e9 que finalmente aceitei (de cora\u00e7\u00e3o) que nossa jornada de amamenta\u00e7\u00e3o havia chegado ao fim. Acho que eu sofri muito mais do que ela, mas ser m\u00e3e tamb\u00e9m \u00e9 aceitar que nem sempre as coisas saem conforme gostar\u00edamos. Alguns podem at\u00e9 achar que \u00e9 um exagero, afinal ela j\u00e1 era crescidinha e mamou bastante, mas s\u00f3 quem j\u00e1 passou por isso entende. Cortar um la\u00e7o t\u00e3o forte assim, de forma abrupta e sem esperar foi bem dif\u00edcil.<\/p>\n\n\n\n

Eu n\u00e3o tomei rem\u00e9dio algum para secar o leite, fui ordenhando cada vez menos, para parar de estimular, conforme orienta\u00e7\u00e3o que recebi no banco de leite. At\u00e9 que meu peito parou de encher e o leite foi secando aos poucos. Depois da crise, ela falava que mamava ainda e pedia o Tet\u00ea, mas s\u00f3 colocava a boca no seio e n\u00e3o mamava. Tirava e dizia que j\u00e1 tinha mamado. Fez isso durante uns dois meses. Tinha carinho pelo peito e pedia. Foi diminuindo o n\u00famero de vezes que pedia para \u201cmamar\u201d (eu nunca negava, sempre oferecia o seio e deixava), at\u00e9 que parou sozinha. Depois deste per\u00edodo, dizia que n\u00e3o mamava mais, que era \u201cmenina grande\u201d e tomava o leite no copinho. Acho que foi a forma que ela encontrou para fazer esta transi\u00e7\u00e3o, emocionalmente falando.<\/p>\n\n\n\n

Depois que tudo passou, acho que ela mamou o suficiente, recebeu todos os nutrientes que precisava do leite materno e estava sim pronta para o desmame, apesar da forma como aconteceu n\u00e3o ter sido muito legal. Ela j\u00e1 era bastante independente, andava e falava de tudo antes de 1 ano, ia para escola, ficava com outros cuidadores, dormia a noite toda e aceitava outras formas de consolo (na verdade, raramente recorria ao peito para isso).<\/p>\n\n\n\n

Ent\u00e3o sou muito grata pela ben\u00e7\u00e3o que Deus me concedeu de t\u00ea-la amamentado durante todo este tempo. Agrade\u00e7o tamb\u00e9m ao apoio incondicional da minha fam\u00edlia, que foi fundamental, principalmente do papai e das av\u00f3s\u200b; ao banco de leite, que me acolheu e ajudou em todos os momentos que precisei; \u00e0s minhas amigas que me apoiaram, em especial a Carol, que me emprestou a bombinha de leite t\u00e3o prontamente v\u00e1rias vezes; e \u00e0s consultoras de amamenta\u00e7\u00e3o Helena Junqueira\u200b e Zioneth Garcia\u200b que me ajudaram muito neste processo, n\u00e3o s\u00f3 pelas informa\u00e7\u00f5es t\u00e9cnicas, mas pelo carinho e apoio emocional! Apesar desse desmame precoce (precoce sim, diante dos estudos sobre os benef\u00edcios da amamenta\u00e7\u00e3o continuada ap\u00f3s os 12 meses, at\u00e9 os 2 anos ou mais), sinto que minha miss\u00e3o neste quesito foi cumprida com sucesso. Depois come\u00e7ou uma nova etapa, descobrimos novas formas de nos relacionar e de fortalecer nosso v\u00ednculo com muito amor. E vamos olhar para o lado positivo, ganhei um pouco da minha liberdade de volta… Foi bom poder voltar a usar a roupa que quisesse novamente, comer e beber sem me preocupar se iria afetar a Alice. Temos \u00e9 que comemorar, afinal foram quase 15 meses de muito leitinho materno!<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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