Sentiu o peito apertar. A cor rosa chamava aten\u00e7\u00e3o mas ela n\u00e3o queria fazer contato. Por que ela n\u00e3o queria olhar para aquela florzinha que tinha ganhado de anivers\u00e1rio? A dor da c\u00f3lica lembrou que ela devia pegar o chinelo se quisesse ir at\u00e9 o quintal.<\/p>\n\n\n\n

– N\u00e3o \u00e9 seu lugar a\u00ed, n\u00e9, minha linda? – perguntou a mo\u00e7a \u00e0 plantinha florida de min\u00fasculas flores cor-de-rosa choque.
A planta estava no altar do jardim, junto \u00e0s conchas grandes, os n\u00f3s-de-pinho e o regador velho que agora servia apenas para a decora\u00e7\u00e3o. Pegou o vaso fino na m\u00e3o, a flor tinha ido direto do carro de quem a tinha presenteado para esse altar do quintal. Como se precisasse de purifica\u00e7\u00e3o antes de chegar perto da casa. Agora, dois dias depois, ela ainda n\u00e3o se sentia pronta para encontrar um lugar para aquela flor, mas algo a chamava para que o fizesse. <\/p>\n\n\n\n

Era crep\u00fasculo. O vento do outono j\u00e1 se instalava.
Girou o jardim com a flor cor-de-rosa nas m\u00e3os, at\u00e9 chegar \u00e0 varanda. Deixou a flor junto \u00e0 pedra que tinha trazido de uma praia de focas do norte da Irlanda e o cora\u00e7\u00e3o de quartzo que comprou para prote\u00e7\u00e3o na loja da esquina. Deitou na rede e uma grande tristeza a invadiu.
A tristeza tinha algo a ver com a flor, mas n\u00e3o sabia o porqu\u00ea. Pensou que poderia ter liga\u00e7\u00e3o com a pessoa que a presenteou.<\/p>\n\n\n\n

– Eu nunca recebi flores de um homem antes – teria dito ao receber o presente.<\/p>\n\n\n\n

Mas n\u00e3o. N\u00e3o parecia estar conectado a esta pessoa em si. Nem com nada do momento presente. Sentou-se no ch\u00e3o, pr\u00f3ximo \u00e0 planta e colocou as pernas ao redor do vaso, quase como se fosse abra\u00e7\u00e1-lo com as pernas. Aperna-lo?
Aquela flor tinha sua cor preferida: rosa-forte. Ela n\u00e3o sabia o nome daquela flor, era uma dessas que se compra no supermercado baratinhas. <\/strong><\/p>\n\n\n

ERA SOBRE A COR. ALGO COMO UMA LEMBRAN\u00c7A A INVADIU. ESSAS FLORES…ELAS PARECEM FAMILIARES.<\/strong><\/span><\/p>\n\n\n

Foi levada a uma sensa\u00e7\u00e3o de que a dor em seu \u00fatero era de uma aborto e as flores teriam sido presenteadas por algu\u00e9m da vizinhan\u00e7a como determinavam os bons costumes da \u00e9poca em que isso aconteceu.
Mais elementos foram aparecendo na lembran\u00e7a e sentiu como se estivesse em um quarto de hospital, por\u00e9m parecia que estava em casa. Por\u00e9m n\u00e3o era parecida com nenhuma casa de sua vida atual. Foi a\u00ed que confirmou que era uma mem\u00f3ria de outra vida. E chorou.
Deixou virem as emo\u00e7\u00f5es e sensa\u00e7\u00f5es que inundavam ventre e cora\u00e7\u00e3o. Tentou entender o que estava acontecendo, mas cada vez que tentava encontrar l\u00f3gica, sentia uma pontada de c\u00f3lica e a cabe\u00e7a querendo explodir.
Permitiu que a situa\u00e7\u00e3o flu\u00edsse e algo lhe dizia que ela precisava processar aquela dor de alguma forma, pois era uma dor de \u201cantes\u201d que ela carregava no \u201cagora\u201d. Lembrou das pedras, entrou em casa e buscou as pequenas ajudantes que descansavam em um vaso de cer\u00e2mica herdado da av\u00f3. Pegou tamb\u00e9m uma grande drusa de ametista – presente de um de seus pacientes que tinha sido ajudado muitas vezes pelo c\u00edrculo de pedras.<\/p>\n\n\n\n

Levou tudo pra varanda, onde posicionou o vaso de flor no centro e, uma a uma, as pedras em semi-c\u00edrculo ao redor. Percebeu que as cores das pedras formavam uma sequ\u00eancia visualmente l\u00f3gica, apesar deterem sido colocadas de forma intuitiva.
Respirou fundo, e sentiu o choro invadir novamente. Deixou o choro vire sabia que era um choro grande e antigo. Perguntou ao Esp\u00edrito se era o choro de alguma de suas ancestrais que havia perdido um filho, mas n\u00e3o sentiu nada conectar. Esse choro era dela mesma.<\/p>\n\n\n\n

Conforme chorava, percebeu mais pe\u00e7as do quebra-cabe\u00e7a: a hist\u00f3ria envolvia uma crian\u00e7a que tinha morrido no parto, provavelmente um parto prematuro. Onde estava o pai da crian\u00e7a? N\u00e3o estava presente. N\u00e3o tinha morrido, n\u00e3o tinha ido pra guerra. Tinha sido algu\u00e9m pelo qual a mo\u00e7a se apaixonou e com quem gerou a crian\u00e7a, mas ele seguiu viagem, \u201ccomo tinha que ser\u201d.
A dor era grande, tanto pela perda da crian\u00e7a quanto pela ideia de que nunca mais veria o ser com quem tinha gerado essa crian\u00e7a. E agora que a crian\u00e7a se tinha ido, n\u00e3o teria mais nada para lembrar daquele grande amor. Isso do\u00eda profundamente.
Conforme recebia essas informa\u00e7\u00f5es em sua \u201ctela mental\u201d, sentia as pequenas pedras se movimentando. Moveu-as conforme sentiu, formando uma espiral que iniciava na flor cor-de-rosa.
Olhou com amor e pediu \u00e0s pedras que ajudassem a curar e processar toda aquela dor. Sentiu ent\u00e3o que a espiral de pedras queria se mover e novamente moveu as pedras que, desta vez, formavam uma espiral que come\u00e7ava nela mesma. Pegou a grande drusa de ametista e colocou junto ao ventre, ao \u00fatero. Foi quando viu seu p\u00eandulo de ametista no vaso de cer\u00e2mica. Nunca tinha sido muito \u00edntima dos processos de p\u00eandulo, mas sentiu que nessa hora podia confiar.
Usou o p\u00eandulo para respostas sim ou n\u00e3o. E passou a fazer perguntas para a primeira pedra da pedra da espiral – um pequeno olho-de-tigre:<\/p>\n\n\n\n

– Essa flor representa o luto pela experi\u00eancia passada?
O p\u00eandulo girou para o lado do \u201cn\u00e3o\u201d. No mesmo instante, entendeu que a flor n\u00e3o representava o luto em si, mas sim a cura.<\/p>\n\n\n\n

– Essa cura \u00e9 sobre um filho que estava no meu \u00fatero e eu perdi?<\/p>\n\n\n\n

– Sim – respondeu o p\u00eandulo girando.
Queria perguntar \u201ccomo\u201d curar aquela energia mas o p\u00eandulo s\u00f3 respondia sim ou n\u00e3o. Foi quando veio uma forte sensa\u00e7\u00e3o em seus bra\u00e7os e perguntou ao p\u00eandulo:<\/p>\n\n\n\n

– Esse trauma permanece no meu corpo porque na ocasi\u00e3o eu coloquei uma maldi\u00e7\u00e3o em mim mesma de nunca mais ter filhos para n\u00e3o precisar sentir essa dor?<\/p>\n\n\n\n

-Sim.
Mais choro.<\/p>\n\n\n\n

Girou ent\u00e3o o p\u00eandulo no sentido anti-hor\u00e1rio em cima da flor rosa-choque:<\/p>\n\n\n\n

– Eu agora me perdoo e me liberto de toda e qualquer maldi\u00e7\u00e3o que tenha colocado em mim mesma em decorr\u00eancia de uma dor t\u00e3o profunda quanto essa, desde agora at\u00e9 a fonte criadora. Eu me perd\u00f4o, eu me libero e pe\u00e7o a libera\u00e7\u00e3o de todos os seres que nesta ou em outras vidas n\u00e3o conseguiram nascer atrav\u00e9s de mim. Eu agora me perdoo e libero a todos.
O p\u00eandulo foi diminuindo a rota\u00e7\u00e3o e o cora\u00e7\u00e3o ficou leve. As pontadas de c\u00f3lica pararam. Abaixou a cabe\u00e7a e agradeceu a todos os ajudantes do plano f\u00edsico e espiritual. Guardou as pedras e voltou a contemplar o crep\u00fasculo.<\/p>\n\n\n\n

<\/p>\n\n\n\n

Este texto \u00e9 parte de um movimento chamado CARTAS DE CURA, que surgiu em um dos encontros da Jornada da Lua, um C\u00edrculo de Sagrado Feminino em que sincronizamos nossas energias com os ciclos da natureza com a ajuda da Astrologia e do Tarot e do poder do encontro. A Jornada \u00e9 conduzida por Luna Hol\u00edstica e J\u00e9ssica Trombini e voc\u00ea pode se inscrever nesse link<\/a>. Sentiu o chamado para se curar tamb\u00e9m? Envie sua CARTA DE CURA para conteudo@falafrida.com.br (voc\u00ea pode assinar ou enviar anonimamente).<\/p>\n\n\n\n

As cartas de cura j\u00e1 publicadas est\u00e3o aqui<\/a>, aqui<\/a>, aqui<\/a> e aqui<\/a>.<\/p>\n\n\n\n

<\/p>\n\n\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Sentiu o peito apertar. A cor rosa chamava aten\u00e7\u00e3o mas ela n\u00e3o queria fazer contato. Por que ela n\u00e3o queria olhar para aquela florzinha que tinha ganhado de anivers\u00e1rio? A dor da c\u00f3lica lembrou que ela devia pegar o chinelo se quisesse ir at\u00e9 o quintal. – N\u00e3o \u00e9 seu lugar a\u00ed, n\u00e9, minha linda? […]<\/p>\n","protected":false},"author":53,"featured_media":12536,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":[],"categories":[204,335],"tags":[148,196,150],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/falafrida.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/12533"}],"collection":[{"href":"https:\/\/falafrida.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/falafrida.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/falafrida.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/users\/53"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/falafrida.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=12533"}],"version-history":[{"count":11,"href":"https:\/\/falafrida.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/12533\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":12565,"href":"https:\/\/falafrida.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/12533\/revisions\/12565"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/falafrida.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media\/12536"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/falafrida.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=12533"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/falafrida.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=12533"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/falafrida.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=12533"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}